*Para Malu, Sara, Rosana, Lívia e Renata
Nunca fora completamente incolor. Sempre tivera suas cores e pinceladas, em diferentes tons, em alternadas intensidades. Umas mais concentradas; outras, praticamente imperceptíveis. Mas inevitavelmente estruturais. Era uma tela vivaz e instigante. Andava, todavia, um tanto acinzentada demais. Faltava-lhe o sentido vibratório das combinações, das novas experimentações. Quando uma cor predomina e deixa de provocar, é simplesmente vital escancarar-se para novos tracejos, nas mais variadas tonalidades.
E no acaso de uma mistura, eis que se descobre um verde único, o qual, numa tentativa de aproximação, comparar-se-ia ao mar de Angra. Nada frio, porém. Contrariamente acalentador, aconchegante, confortável. Diria até, inimaginavelmente, seguro. Acrescentou detalhes ternos, sinceros, amorosos. E trouxe consigo, de mãos dadas, um azul iluminador, meio que de rompante. Dele, eram emitidas ondas que rebatiam muito do já concreto. Questionadoras e incômodas. Mas nem um pouco dispensáveis. De fato, instigava mais e mais riscos na tonalidade curiosa a que chegara sobre as demais.
Quando achava que era gracejo suficiente tanta vida em pouco tempo, novas tintas pularam sobre o quadro. Ainda que seja obscuro, o preto nada tem de frívolo. Deu sobriedade, e fez graça ao encontra-se com os laranjas e cores-de-rosa de outros tempos. O preto bem que tentou ser intermitente. Mas surpreendeu-se quando viu que, na verdade, era tão energizante quanto as demais cores. Ganhava força vibrante com a densa cor-de-aurora arroxeada, surgida elegante e cheia de doçura. Da combinação perfeita entre tons criou-se uma aquarela indescritível, a qual só se tornou compreensível para quem ousou olhá-la.
Na tela antes cinza e agora invadida pela beleza das cores, tomou-se de pronto uma alegria há muito esquecida. A mistura das novas tonalidades com as pinceladas de outrora formou uma obra-prima. Não há, no entanto, raridade estética que não permita novas interpretações e, por que não?, mais e mais interferências. E, por ver as molduras livres, o branco, antes ciumento e desconfiado, aproximou-se e, sem precisar de autorização, (ar)riscou-se, arrebatadoramente, sobre a paisagem abstrata. E, como lhe é essencial, uniu as demais cores em uma só luz, um terno brilho, refletido em vibrantes encontros de vértices, curvas, pontos, respingos.
Aquela tela, uma outra vez, deixara de ser meramente um espaço pálido. Ganhou, gratuitamente, o calor de um arco-íris pleno de beleza e ternura. O calor de combinações de valor inestimável, que tornaram aquela superfície mais que um tecido apregoado, deu-lhe status de obra de arte, aberta e exposta na galeria onde qualquer ser pode entrar: a sincera alma da artista que a imagina.
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7 comments:
Ju, querida!
Que belo texto, que linda homenagem, que maravilhosa imagem!
Que esta tela seja eternizada ainda que nunca passe por uma galeria de arte nem venha a pertencer a um renomado museu. Basta que essa figura fique para sempre sem nossas mentes e em nossos corações, para a felicidade das cores que a compõe.
Beijos gratos!
Tô Boba!!!! Como nao tenho talento qualquer.... a unica expressão que expressa toda a minha admiração é mesmo: To boba! De Sara
Jujuba, que coisa mais linda. Tô emocionada pelas luzes coloridas que você colocou no meu dia. Obrigada pela linda homenagem. Um beijo enorme! Lívia
Grande Ju, muito bonito e bem sensivel...a melancolia claro, sempre presente.
Estou sem jeito de escrever...pois a sua escrita é de deixar qualquer um de boca aberta, faltam as palavras mas sobram as emoções.
Parabéns!
coisas muito boas por aqui, parabéns!
Muito legal! Viva a diversidade...
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