Tuesday, October 17, 2006

Saudade do desconhecido

Se os poetas do Romantismo ainda existissem, eles certamente se surpreenderiam com a capacidade que esse mundo irreal – ou deveria dizer surreal? – da Internet tem de criar amores. Numa época em que a imagem define exclusivamente as paixões, é curioso observar que é possível amar e sentir saudade de quem não se conhece. Não se conhece face a face. Mas há ternura... ah, sim, se há! E como não há como existir ternura falsa, esses sentimentos são sinceros e causam deleite a cada prosa virtual, a cada sorriso arrancado em frente à máquina "fazedora" de sonhos e "platonicidades".

É nítido que não se pode acreditar em tudo o que se imagina quando se trata da idealização daquele que está do outro lado da tela. E quem liga? Também não se pode desprezar as novas formas de amor criadas pelo avanço mirabolante da inteligência humana. As sensações de afeto, de verdade, de carinho e até de saudade do que não se conhece “de fato”, por vezes, são tão ou mais reais quanto o que se sente por quem está aqui do ladinho, quem se pode tocar...

Como defendiam subliminarmente os próprios românticos, o atingível não tem graça alguma. Bom mesmo é imaginar como é o olhar, o cheiro e a voz da figura idealizada. Bom mesmo é sonhar acordada com um abraço que, sabe-se, dificilmente acontecerá. Melhor assim! A vida real é menos bonita que o sonho, não é mesmo? Então, que assim seja. Que as comunidades, as relações, os amores, as amizades e as cumplicidades criem novas e outras tantas formas de troca. Que o amor seja capaz de transpassar a barreira do real, do socialmente aceitável, do humanamente palpável. Que as palavras virtualmente propagadas sejam capazes de gerar mais afeto nesses corações tão endurecidos pela realidade. E que os meus três amores - iguais no espaço, mas diferentes em suas manifestações - multipliquem-se e me façam sentir tão viva e feliz outras vezes quanto sinto-me agora.