Monday, April 25, 2011

Pelo vento

Desprendi-me de mim. Moro agora nos abraços que dou, nos afagos que faço, nos beijos que distribuo.

Tuesday, April 05, 2011

POEMA PARA TE RECEBER À PORTA

(Poema de Gustavo de Castro para mim)

Para Juliana Borre

Queria reunir sete abraços:


Com o primeiro abraço
ataria em ti os fios dos meus afagos.
Com o segundo, tudo o que se perdeu.
Com o terceiro, faria tua cama, deixaria
usted deitar em paz. No quarto abraço
me faria teu. Com o quinto, transfomaria
tudo em beijo. O sexto seria para ninar,
na boquinha, goiabada com queijo.
O sétimo encerraria a dor do mundo.
No amor está o último braço,
no beijo, a figura-fundo.

Faroeste meu

Ele está na boca de todos. Quase 30 anos depois de seu "nascimento" (e morte), João de Santo Cristo, cuja saga é incansavelmente entoada pelos admiradores da Legião, volta à cena. Referência cultural para muitos brasileiros, a personagem de Renato traz consigo uma simbologia ainda mais marcante aos jovens brasilienses entre os 40 e poucos e os 20 e tantos anos.

Para mim, os mais de nove minutos de música, no entanto, vão além da paixão pela banda e pela canção. Primeiro porque aquelas referências todas da(s) cidade(s) soavam tão familiares que, apesar de nem nascida em muitos dos acontecimentos referidos nos versos, eu parecia sentir na pele as sensações de Santo Cristo. Desde que descobri essa estória, uma brincadeira era certa. Moradora de um dos muitos lotes 14 de Ceilândia por mais de 20 anos, gracejava com os amigos que a cena final de Faroeste Caboclo teria acontecido em frente à minha casa.

A sensação de pertencimento dos ceilandenses a esse enredo é tamanha que, inclusive, gerou o mito de que Pablo, o "peruano que vivia na Bolívia", morava "nas quebradas" nossas, pertinho da escola onde eu conclui o 1º grau e onde ouvi esse conto pela primeira vez. A conversa era tão coerente que eu mesma a reproduzi por diversas vezes.

Outro verso muito familiar é "saindo da Rodoviária, viu as luzes de Natal". Com o dinheiro parco, o entretenimento nos meus tempos de menina era a Esplanada. Sim, acredite, mamãe dava a grana pro ônibus e, com esses poucos cruzeiros no bolso, rumávamos para o Plano, um mundo mágico, tão perto e tão distante de nós. Batíamos perna o dia todo. Descíamos na Rodoviária e zanzávamos pelos ministérios, íamos ao Congresso, escorregávamos pela cúpula (não tente fazer isso hoje!). Ou então enfrentávamos um desafio maior, saltávamos no Memorial JK ou na Torre de TV e andávamos, sob o sol escaldante e o tempo seco, até os cartões postais mais famosos. Ali, eu tinha a sensação de estar dentro da TV, onde via uma imagem aérea ou outra daquele gramado pelo qual rolávamos. No fim de ano, ver as luzes era programa de família, em prática ainda hoje.

Como João, durante a adolescência, libertei-me nas festinhas de rock. Não sei se o tipo de autonomia que o (anti)herói de Faroeste buscava, mas a liberdade cultural e social de um grupo que não tinha muito entretenimento às mãos e que se virava com suas próprias festas, possivelmente bem mais "caretas" que as de outrora.

Um outro verso que me fala ao coração é "Nesse país, lugar melhor não há". Neta de candangos, escuto essa percepção reverberar pelo imaginário familiar desde criança. Apesar dos tempos difíceis, da poeira, da violência, Brasília (leia-se Ceilândia) foi (e é) um oásis para os meus. Trouxe-lhes a possibilidade de uma vida melhor. E quem não a quer? Foi isso que João de Santo Cristo buscou. E, apesar de seu fim, foi o que, de uma forma torta, encontrou.