Wednesday, December 27, 2006

MudAN(dan)DO

Rupturas. Sempre soam dolorosas. Sempre doem, de fato. Talvez porque o novo é o desconhecido, o diferente do acostumado, o que desafia.

Desvincular-se das asas da mãe (e também do pai, sim), sobretudo aquela que esteve presente em todos os momentos, foi parar e encarar o horizonte. Foi romper a segurança de ter colo todos os dias. Foi ter dúvidas se o prato favorito seria feito no domingo em família. Foi deixar aqueles que causam tanto orgulho.

Aquele foi um dia deveras doloroso. O aperto, tantas vezes poetizado, realmente angustiou o peito. Não foi apenas uma metáfora. E as lágrimas caíram assim, sem mais nem menos, mesmo sabendo que eles estariam ao alcance das mãos. O temor era ser vista como ingrata.

A primeira noite foi regada a gotas lacrimosas, reflexos, reflexões. O estranhamento vinha do estômago para os olhos. A dúvida do acerto ou do erro rodopiava a cabeça sem sono.

Setecentas e quarenta e quatro horas depois, o alívio já toma conta. A cultura da "nova vida" também. Bate saudade. Ainda há receio se a escolha foi certeira. Mas o aprendizado acalma o palpitar acelerado. E justifica a ruptura. Uma das tantas que rechearam meu 2006, um ano definitivamente inesquecível.

Tuesday, October 17, 2006

Saudade do desconhecido

Se os poetas do Romantismo ainda existissem, eles certamente se surpreenderiam com a capacidade que esse mundo irreal – ou deveria dizer surreal? – da Internet tem de criar amores. Numa época em que a imagem define exclusivamente as paixões, é curioso observar que é possível amar e sentir saudade de quem não se conhece. Não se conhece face a face. Mas há ternura... ah, sim, se há! E como não há como existir ternura falsa, esses sentimentos são sinceros e causam deleite a cada prosa virtual, a cada sorriso arrancado em frente à máquina "fazedora" de sonhos e "platonicidades".

É nítido que não se pode acreditar em tudo o que se imagina quando se trata da idealização daquele que está do outro lado da tela. E quem liga? Também não se pode desprezar as novas formas de amor criadas pelo avanço mirabolante da inteligência humana. As sensações de afeto, de verdade, de carinho e até de saudade do que não se conhece “de fato”, por vezes, são tão ou mais reais quanto o que se sente por quem está aqui do ladinho, quem se pode tocar...

Como defendiam subliminarmente os próprios românticos, o atingível não tem graça alguma. Bom mesmo é imaginar como é o olhar, o cheiro e a voz da figura idealizada. Bom mesmo é sonhar acordada com um abraço que, sabe-se, dificilmente acontecerá. Melhor assim! A vida real é menos bonita que o sonho, não é mesmo? Então, que assim seja. Que as comunidades, as relações, os amores, as amizades e as cumplicidades criem novas e outras tantas formas de troca. Que o amor seja capaz de transpassar a barreira do real, do socialmente aceitável, do humanamente palpável. Que as palavras virtualmente propagadas sejam capazes de gerar mais afeto nesses corações tão endurecidos pela realidade. E que os meus três amores - iguais no espaço, mas diferentes em suas manifestações - multipliquem-se e me façam sentir tão viva e feliz outras vezes quanto sinto-me agora.

Monday, August 28, 2006

Melancolia enfim

Sabe aqueles dias em que você tem vontade de pisar o pé no freio e parar o mundo? É, é exatamente aquela piada bobinha: "Pare o mundo que eu quero descer!!". Pois então. Esses dias vêm repentinamente. Em meio à alegria ou à inércia do cotidiano, surge aquela nuvenzinha com cara de tempestade. Ela te joga pra baixo, te deixa pensativo. Creio que, em mim, a sensação melancólica é um tantinho maior... Sabe-se lá o por quê disso, mas que é, é. E por incrível que pareça, acho até bom esse aperto no coração.

Calma, calma, não sou mazoquista não. É que nessas fases, curiosamente, conheço-me mais; aprecio-me mais; questiono-me mais; emociono-me mais.

O ruim desse contexto é sentir-se tão pequeno e inútil quanto... Opa! Não consegui algo tão pequeno e inútil para comparar. Talvez seja sinal de que não tenha nada tão pequeno e inútil assim.

Bem, enfim, mas que a gente se sente choroso e faz cara de lamúria, ah, isso faz... Mas, aos poucos, depois de doces olhares, estralados beijos, carinhosas palavras, essa angústia vai se esvaindo, e deixa na gente o gosto na boca de mais uma lição aprendida.

Mais uma colérica e sábia lição. Somada a tantas outras, depois de lágrimas, soluços, dores e apertos. Mais uma para o nosso "cabideiro de sentimentalismos", exposto no canto do quarto da solidão.