Tuesday, April 10, 2012

Janela discreta

Sentada no café, ela fotografa, encantada, aquela janela poulainesca. Enquadramento nas grades que emolduram o cenário à meia luz: cortinas de voal, mesinha quadrada de madeira e um vaso com uma única flor. Quem será que vive ali? Um casal de velhinhos eternamente apaixonados? Uma jovem romântica e solitária? Um artista plástico de 30 e poucos anos?

Lá dentro, no quarto ao lado da janela pictórica, ela se debate. Sobre seu rosto, um travesseiro, pressionado pelas enrugadas mãos. Ela tenta respirar. Agita o corpo. Mas ele, apesar da idade, sabe a dose exata de força para atingir o seu objetivo. Num único lampejo de raciocínio em meio ao desespero, ela percebe a perversão dele ao mirar o cabideiro. Um sem-número de meias arrastão decoram o canto do cômodo. Em poucos minutos, sua peça de malha trançada já se soma às demais.

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