Monday, June 23, 2008

Filho da geração Coca-cola

* Esta matéria foi publicada em junho de 2006. É o perfil de Dado Villa-Lobos, ex-guitarrista da Legião Urbana. Ela também representa muito para mim: entrevistar um ídolo é sempre emocionante.


Ele, definitvamente, não é mais do mesmo. Permitiu-se inovar e enveredar por outros caminhos. Ao completar 41 anos, na última quinta-feira, Eduardo Dutra Villa-Lobos, ou simplesmente Dado Villa-Lobos, o ex-guitarrista da lendária Legião Urbana, segue sua carreira muito bem, obrigado.
Filho de diplomata, Dado nasceu em Bruxelas (Bélgica). Mas foi em Brasília – onde chegou em 1971 para morar na 104 Sul, bloco E, apartamento 502 – que ele cresceu e conheceu o grupo de amigos com quem viveu o auge do punk rock candango. "Brasília foi onde eu me alfabetizei", define, lembrando dos tempos em que estudou na Escola Parque 304.
Da infância na capital, o aspecto empoeirado das primeiras décadas e a calmaria são as principais lembranças. "Eu me lembro da terra vermelha e de uma certa liberdade de ficar, com segurança, na rua. Quando chovia, a gente rolava na lama", conta. "A gente gostava também de andar de skate, bike e carrinho de rolemã", diz, relembrando das brincadeiras com os amigos de infância Dinho Ouro Preto e Bi Ribeiro, ambos também filhos de diplomatas.
Aos 14, 15 anos, numa situação inusitada, conheceu a turma do punk. "Numa tarde, eu estava sentado embaixo do bloco, vendo as meninas passarem, quando apareceram quatro monstros: Renato (Russo), Fê e Flávio (Lemos) e um outro, que não lembro quem era. Eles picharam na garagem do prédio as iniciais AE, de Aborto Elétrico (banda em que tocavam na época). Fiquei curioso para conhecê-los", admite.
"Dias depois, o Aborto Elétrico tocou no Cafofo, que ficava na 408. Eu os conheci e nós começamos a nos freqüentar." Pronto. Estava dado o primeiro passo para a guinada na vida de Eduardo. Os acampamentos para o Tororó e a "troca de figurinhas" musical mexeram com a vida do então estudante de Sociologia. Tanto que ele montou, juntamente com Dinho, Marcelo Bonfá, Loro Jones e Pedro Flores, a banda Dado e o Reino Animal, que durou apenas dois meses.
Decidido a ir estudar em Marselha, em 1983, o sobrinho neto do maestro Heitor Villa-Lobos mudou de planos ao ser convidado para dedilhar os acordes de guitarra da Legião Urbana, que já tinha um ano de existência. "Eles ficaram sem guitarrista e tinham uma apresentação no Teatro da OAB (616 Sul) com a Plube (Rude), o Capital (Inicial) e a XXX. Então aceitei. Nós fizemos várias músicas nesse mês da apresentação. E esse acabou virando o repertório do primeiro disco."
Começou, então, a trajetória de uma das bandas de rock mais conclamadas do País. Nove discos gravados enquanto o grupo ainda existia e mais dois depois da morte do líder, Renato Russo. Sucessos como Eduardo e Mônica, Que país é este?, Pais e filhos, a preferida de Dado, e Faroeste caboclo, que marcaram a vida de milhares de jovens que seguiam o grupo, em busca de entender o amor, protestar contra a injustiça, liberta-se. "As pessoas se identificaram e se identificam muito com a Legião. Tem muito do universal, do imaginário e do comportamento da juventude. As pessoas continuam buscando informação e emoção. Ficou uma coisa atemporal", faz o balanço.

Arriscando-se no jardim de "cactus"

Mas depois do fim do grupo, Dado Villa-Lobos continuou fazendo o que mais gosta: música. Morando no Rio desde 1985, ele criou, em 1992, uma forma de continuar a fazê-la, mesmo sem a Legião Urbana: criou a gravadora independente Rock it!. Desde então, o "irmão caçula" de Renato Russo produz trilhas sonoras para cinema e lança novos artistas.
"Minha vida musical não era fechada. Eu tinha muitos amigos em outras áreas. A Rock it! me aproximou das coisas da música e me abriu portas." E ele não parou por aí. Resolveu desafiar-se e lançou, em 2005, o disco Jardim de cactus. "Esse foi um grande desafio. Tive de retomar a história de contar alguma coisa. Depois que o Laufer (Carlos Laufer, co-produtor do CD) disse para fazer meu disco fui buscar parceiros, letristas", conta, apontando os nomes dos afortunados: Paula Toller, Fausto Fawcet, China, Tony Platão.
Além de tocar, Dado também inova nos vocais. "Cantar é uma etapa incrível. É um novo instrumento, que me permite ver até onde eu posso ir e interpretar as canções. Até chegar perto do que seria a satisfação", conta. "Foi muito bom", completa.
Na vida pessoal, Dado vive um casamento de 20 anos com Fernanda Villa-Lobos. Pai coruja, fala orgulhoso dos dois filhos Nicolau, 18, que estuda Comunicação Social, e Miranda, 16, que já é estilista. "A gente é muito próximo."
Mesmo tendo amigos e parentes em Brasília, Dado diz que sua vida está no Rio de Janeiro. "Tenho um círculo (de pessoas) bom aqui. Mas tenho uma estima grande, um carinho por Brasília. Sou um paladino dessa cidade."

1 comment:

O Fim da Coca-Cola said...

Da geração Coca-Cola, o coitado fez de tudo para conscientizar o povo, só que enquanto abre o olho de um, outros mil olhos são fechados com o creuuu da vida!!!
decretemos o fim do creuuu, e o fim da coca-cola par ao bem da humanindade. viva vila-lobos

http://ofimdacocacola.blogspot.com