Monday, March 10, 2008

Ensaio sobre a solidão

Sempre soou um tanto exagerada a afirmação de que "o mal do século é a solidão". E clichê a descrição do sentir-se só em meio a uma multidão. Embora reproduzisse estes discursos com veemência – não por ingenuidade, mas por saber que de certa forma faziam sentido –, nunca os sentira como agora. A solidão é mais que estar só. É não saber para onde olhar quando os olhos marejam; é não conseguir discar um único número completo para poder desabafar; é estar ao lado de duas pessoas e sentir-se solenemente ignorada; é vivenciar um aperto tão intenso quanto a tristeza de perder alguém para o mistério da morte.

Talvez você, que agora lê estas solitárias linhas, ache tudo um sem-número de melancolias injustificadas. Ou reflita sobre a vida da autora e desacredite ser possível alguém sentir-se assim, com tudo o que fora conquistado. Mas a solidão não escolhe classe. Tampouco idade, sexo, religião. Ela simplesmente invade até o mais aberto dos corações. Até quem veja na humanidade e na dedicação ao próximo seu modus vivendi.

Agora ocorre-me a idéia existencialista de "náusea". A náusea, segundo Sartre, é o despertar para a humanidade, para uma nova atuação social, para a inquietação de uma vida incorformável. Seria esta dor quase insuportável o embrulho no referido olhar? Deveria minh’alma arreganhar suas janelas para o que faz no dia a dia?

Curiosamente, apontam-me pela simpatia, pela sinceridade, por uma tal sensibilidade. Até que profundidade, porém, os afagos desta entristecida aura alcançam os corações dos amigos desejados? E que doçura é esta que só colhe indiferença, desconsideração, isolamento?
Mestre, rogai por estas amarguras. Por aquilo que não é possível superar, simplesmente. Pelas marcas que ficam quando as lágrimas descem de saudade do riso, do gozo e do amor que ainda não chegaram. Ou mesmo que vieram, mas que nada mais são do que saborosas lembranças de um passado distante...

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